quarta-feira, 9 de junho de 2010

Lagrimas da Consagração

Esse é o título dessa magnifica historia contada pelo Edu Coimbra, quando o nosso Zico ainda era o galinho, mas que já causava la em Quintino.
Me amarrei nessa história cheia de detalhes da infância do nosso Rei, nessa falta de noticias do Mengão vale a pena da uma conferida.

Quintino, bairro suburbano do Rio, foi sem dúvida um celeiro de grandes jogadores, que fez surgir das ruas de terra batida a sua maior estrela e um dos maiores craques que o universo futebolístico conheceu, de nome Arthur, ou simplesmente Zico.

Há por certo uma infinidade de conhecidas estórias envolvendo a carreira gloriosa deste fenômeno da bola que a mídia com certeza divulgou. Mas esta que vou contar, tenho a certeza que a maioria dos leitores vai receber como novidade; curiosa lembrança da nossa infância que considero de relevante importância na formação e caráter social e profissional deste que hoje é um exemplo a ser seguido. Um verdadeiro cidadão do mundo.

O Juventude de Quintino, time da rua Lucinda Barbosa, onde ele nasceu, tem uma linda e rica história para ser contada. Só quem fez parte dele sabe o valor exato da sincera e verdadeira amizade entre os homens de bem, permanecendo enraizada nos corações de todos até os dias atuais.

Tanto nos campos e quadras da maioria dos bairros cariocas, as equipes formadas tornaram-se famosas pela qualidade e requinte do toque de bola e pelo imenso rosário de vitórias e troféus conquistados no pleno período de puro amadorismo romântico.
Por ser o menorzinho de todos, o caçulinha do time e da família de 6 irmãos, nem sempre era possível Zico desfilar a natural e infantil arte de jogar futebol pelos lugares que o Juventude passava. A participação dele era considerada de risco para integridade física do moleque matreiro e atrevido.
 Há, contudo, uma passagem interessante que se tornou inesquecível pela sutileza de comportamento e pela atitude sensata e cheia de inspiração de uma figura “inimiga” envolvida apenas na total integração do esporte com as relações humanas de bondade e respeito ao semelhante, independente da idade. Pena que não me lembre do nome desta pessoa querida que, mesmo sem querer, foi o grande responsável pelo primeiro grito em uníssono de uma torcida para o Zico.
O ano não me perguntem, pois não saberei precisar, mas calculo que ele deveria ter entre 12 a 14 anos , ou menos, sei lá. A condição técnica, desde a mais tenra idade, sempre tão fenomenal, que a imagem dele jogando bola sempre de um adulto e não de uma criança ou adolescente.
Pois bem...vejam o que aconteceu !

Cascadura Tênis Clube, campeão carioca de Futebol de Salão, grande nome desse esporte, naquela época restrito a uma sociedade elitizada, nos convida para uma partida amistosa dando a entender que o público presente assistiria duas grandes equipes, mostrando um futebol de altíssimo nível. Mesmo não federado, o Juventude era uma referência no Rio de Janeiro.

Como de praxe, antes do embate (essa foi boa, heim!?) principal e servindo como aperitivo, o jogo do segundo quadro, como era chamado. A segunda-feira noturna, chuvosa e fria, dava motivações extras ao evento empolgando a enorme vontade de honrar o nome do nosso bairro. Um episódio, porém, quase tira o brilho do espetáculo logo na entrada principal do clube: o pequenino Zico, barrado por um diretor, considerando-o abaixo da idade permitida e alegando o adiantado da hora e a falta do responsável maior, o pai ou a mãe. E...pior....não o deixariam participar do jogo preliminar.
Bem... Liberar a entrada não foi difícil porque vários adultos da “delegação” se apresentaram como responsáveis e foram aceitos como tal, depois de muita argumentação com o sisudo e teimoso diretor. Difícil foi convencer Zico a não jogar e mais um impasse estava sendo criado. O tempo desabou fora e dentro da quadra.

Sentado na porta do vestiário, o futuro “galinho de quintino” chorou copiosamente, surpreendendo ao grande público presente, triste por ver aquela criança cerceada no direito de demonstrar sua alegria e prazer numa quadra de futebol, com adversários bem mais velhos que ele. Justamente esse o principal motivo da discórdia: uma criança querendo jogar contra os adultos.

Apesar de compreensível a atitude da maioria contra a entrada dele na quadra, a resistência foi quebrada pela interferência de um dos jogadores da equipe principal do Cascadura, seu maior ídolo, que, sensibilizado com a situação, convenceu os jogadores a aceitarem, orientando-os, inclusive, em jogar apenas futebol sem o uso da força física e de apelações extra quadra.

Lágrimas, muitas lágrimas, misturadas a gotas de chuva pingando do teto em seus cabelos loiros, formaram um quadro de rara comoção. Inclusive porque ele havia caminhado a pé, junto com os outros do segundo quadro, desde a estação de Quintino até lá, num percurso de aproximadamente 3Km .. ou mais.

Da iminente frustração à alegria, um grande salto de qualidade moral e uma louca correria para trocar de roupa, vestir o uniforme amarelo e vermelho e adentrar (rs..) no reluzente ginásio para o aquecimento habitual.

Uma cena realmente atípica ver aquele miudinho no meio de tantos “galalaus”.

A extasiada e surpresa galera vibrava e nem de longe imaginaria que a partir dali iria ter o privilégio de assistir um verdadeiro show de bola do então “pintinho de quintino”, mais conhecido como “Pascoal”, por causa de um sinal proeminente em relevo do famoso monte, na sua cabeça (quando raspada ) gerando, por causa disso, essa alcunha criada pelos amigos de infância.

Foi tanta perfeição, tantas diabruras, tantas jogadas maravilhosas que o público incendiou a arquibancada com gritos alucinantes de prazer e alegria!

Ao ponto de chamar a atenção dos vizinhos que correram em direção aos ruídos ensurdecedores, pra saber o que de tão especial estava acontecendo e aproveitando para lotar de vez as dependências deste inesquecível clube.

Um gol daqui (ele meteu 2) outro dali e o Juventude B dando um “vareio” no time adversário e causando até mesmo “frisson” e admiração dos próprios jogadores locais que nem reagiam às magistrais e concatenadas jogadas do quinteto quintinense!

Um detalhe, uma curiosidade: a cada gol marcado – e foram vários- um dedo em riste apontando para o Zico e logo em seguida ao diretor que o barrou, numa nítida brincadeirinha de agradecimento e ironia, por ele ter mexido com os brios do garoto de ouro de Quintino .

E, surpresa maior, quando os gritos entusiasmados foram direcionados a uma só criatura: não se sabe como se iniciou, mas até hoje tenho nos ouvidos aquela imensidão de gente a gritar em alto e bom som: Ziiiiico!! Ziiiico! Ziiiico!

Faltando alguns minutos para o encerramento, ele pede para ser substituído, mas foi impedido até pelo diretor que o havia barrado e pelos gritos incessantes da galera: Fica! Fica! Fica!!!

Que beleza de imagem trago guardado daqueles momentos de arte e confraternização desportiva!
Nem o jogo de fundo, o principal ,teve o brilho desses 40 minutos da preliminar.
Todos vencedores (Cascadura e Juventude ) mas a maior vitória, a de aprender e compreender como é importante lutar por aquilo que temos condições de realizar, mostrando para as pessoas de bem que podemos com o esporte oferecer momentos de alegria sem rivalidades grosseiras, violentas ou intempestivas.

Foi criado ali, sem dúvida , a forma mais natural de enaltecer as qualidades do “pintinho” que mais seria tarde ouvida em todos os estádios do mundo por onde Zico passou: Ziiico! Ziiico! Ziiiico!

Por obra divina e graças ao esforço individual, não é toa que ele é o recordista de gols marcados no Maracanã e o maior ídolo de todas as torcidas do Brasil, no que diz respeito ao caráter e perseverança profissional.

História tirada do site do Zico http://www.ziconarede.com.br
Valeu Galinho por nos proporcionar com esse conto

SRN Nação 

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